quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Texto Prof.ª Ms. Liane Weissmann




Psicodrama e Inclusão Social

Moreno, o criador do Psicodrama, tinha, desde o princípio de sua prática, uma preocupação com a inclusão social. Seus primeiros trabalhos, não eram propriamente psicoterapêuticos e sim “sociátricos”. Trabalhou com pessoas marginalizadas dos campos de refugiados de guerra, com prostitutas, e com crianças dos jardins de Viena.
Moreno, psicodramatista, assim como Winnicott, psicanalista, tinham uma visão, de certa forma mais otimista que Freud quanto à possibilidade de inserção social do ser humano poder ocorrer sem tantos traumas e coações. Freud achava inevitável certo represamento da energia vital da instintividade e do desejo humano para haver inserção social - veja-se o “Mal Estar na Civilização”.
Moreno e Winnicott, não viam o Homem como Ser de Desejo e Instinto e sim como Ser basicamente de Espontaneidade e Criatividade. Isso torna fundamental a atuação do ambiente e dos vínculos para o bom desenvolvimento do ser humano.
Moreno também valoriza a Empatia e a Tele: Capacidade de num determinado vínculo, o sujeito perceber corretamente o Outro, ao contrário dos vínculos onde predomina a Transferência de experiências dos vínculos passados.
Ambos: Moreno e Winnicott consideram que o bom desenvolvimento se dá num ambiente lúdico, flexível o suficiente para acolher a espontaneidade do indivíduo. Só é saudável quem sabe brincar. Quem não brinca fica desprovido de sua saúde e de sua vitalidade. Para o Psicodrama, o ambiente lúdico por excelência é o espaço dramático, o “faz-de-conta”, o “como se” que possibilita uma liberdade de experimentação com algum suporte real e muito espaço para a fantasia.


Etapas da Sessão de Psicodrama
Distinguem-se, no desenvolvimento da ação dramática, três momentos que possuem cada um, uma importância singular. A primeira fase, chamada aquecimento, é onde se prepara o clima do grupo. Escolhem-se um tema e um protagonista e tenta-se penetrar no mesmo no maior nível de espontaneidade possível. O segundo momento ou fase é a representação propriamente dita, a cena dramática. Aqui ganham importância os egos-auxiliares, que serão os encarregados de encarnar os personagens para os quais o protagonista os escolheu: os personagens reais ou fantasiosos, aspectos do paciente, símbolos do seu mundo. O terceiro momento ou fase é o compartilhar, é onde o grupo participa terapeuticamente. Nesta etapa o grupo devolve, compartilha seus sentimentos e vivências, tudo o que lhes foi acontecendo durante a cena, as ressonâncias que ela produziu.
Técnicas dramáticas
As diversas técnicas dramáticas utilizadas durante a representação foram pensadas por Moreno em relação com sua teoria da evolução da criança. Cada uma delas cumpre uma função que corresponde a uma etapa do desenvolvimento psíquico. O diretor do Psicodrama instrumentará, em cada situação, aquelas que pareçam mais adequadas e correspondentes ao momento do drama, segundo o tipo de vinculação que nele se expressa.
A primeira etapa de indiferenciação do Eu como o Tu corresponde á técnica do duplo. A segunda, do reconhecimento do Eu, a técnica do espelho. A terceira etapa do reconhecimento do eu, a técnica da inversão de papéis. Na técnica do duplo, um ego - auxiliar desempenha o papel do protagonista. Verbal e gestualmente complementa aquilo que, a partir desse desempenho, entende e sente que o protagonista não pode expressar completamente por ser isto desconhecido ou oculto por inibições. Coloca-se ao lado em idêntica postura ao protagonista, fazendo seus movimentos, funcionando como a mãe e a criança na primeira etapa.
Na técnica do espelho, o protagonista sai do palco e é público da representação que um ego - auxiliar faz dele. Busca-se, com isso, que o paciente se reconheça em determinada representação, assim como na sua infância reconheceu sua imagem no espelho. O terapêutico desta técnica está em que se reconheçam como próprios os comportamentos e aspectos que lhe são desconhecidos e que importam para o esclarecimento do conflito.
Utilizando a técnica da inversão de papéis, a mudança de papéis investiga na cena o sentir desses personagens do mundo do paciente. Esta é a técnica básica do Psicodrama.
Alem da capacidade espontâneo/criativa e lúdica e da tele, a inversão de papeis também é um critério de saúde e maturidade .
Além das citadas existem outras técnicas dramáticas criadas por Moreno e posteriores a ele.
Moreno, tomando do modelo teatral seus elementos, distinguem, para a cena psicodramática, cinco elementos ou instrumentos:
a) Cenário: neste continente desdobra-se a produção e nele podem-se representar fatos simples da vida cotidiana, sonhos, delírios, alucinações. b) Protagonista: o protagonista pode ser um indivíduo, uma dupla ou um grupo. É quem, em Psicodrama, protagoniza seu próprio drama. Representa a si mesmo e seus personagens são parte dele. Palavra e ação se integram, ampliando as vias de abordagem. c) Diretor: o psicoterapeuta do grupo é também o diretor psicodramático. O diretor do psicodrama está atento a toda informação ou dado que o protagonista de, para incluí-la na cena, guia e ajuda a chegar à cena com espontaneidade. Uma vez começada a cena, o diretor se retira do espaço dramático e somente intervém se é necessário incluir alguma técnica, dando ordens ao protagonista ou ego-auxiliares. d) Público: é o grupo terapêutico



Concluindo
A dor da exclusão social, em suas diversas manifestações, serviu de inspiração para Moreno criar instrumentos de ajuda aos seus semelhantes: a sociometria, a psicoterapia de grupo e o psicodrama. Sua vida foi dedicada aos excluídos: pobres, prostitutas, refugiados, prisioneiros e doentes mentais. Certamente, ele permitiu o surgimento e influenciou decisivamente a psicoterapia de grupo, a psicoterapia comunitária e varias formas terapêuticas e pedagógica de abordar os agrupamentos humanos, no sentido de torná-los mais ... Humanos.



Bibliografia:
Gonçalves, C. S. Wolff, J. R. e Almeida,W. C. – “Lições de Psicodrama” São Paulo Ed. Ágora 1988
Winnicott, D. W. – “ O Ambiente e os Processos de Maturação” Porto Alegre Ed. Artes Medicas 1982
Wikipedia – “Psicodrama”

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