terça-feira, 4 de novembro de 2008

Texto Psic. Sérgio Bassitt



O atendimento Psicológico no ambiente Prisional, um olhar psicanalítico

Diversas particularidades tornam o atendimento psicológico no ambiente prisional uma empreitada que não é das mais fáceis.
Condições adversas, em todos os âmbitos, instalações precárias, estruturas perversas de relação, mentes muito violentadas não só pelo próprio cárcere, mas também por suas histórias de vida, são parte “sine qua non” desse universo.
Mesmo dentre as “instituições totais”, trata-se de uma que agrega características que parecem torná-la quase que impossível.
Por outro lado a Psicanálise teve não só em Freud, como em outros autores de peso, a possibilidade de criar recursos de entendimento e a partir disso; ação sobre os mais diversos construtos humanos. Seguramente algumas condições exigidas pelos cânones do atendimento analítico clássico tornam esta prática absolutamente inviável nessas instituições, no entanto, é perfeitamente possível utilizar todo o potencial analítico como um instrumento de trabalho nesse meio.
Revendo-se e ampliando-se alguns conceitos clássicos, adaptando-se alguns outros, e mantendo ainda os principais, fica plenamente possível fazer uma leitura psicanalítica de todo o trabalho a ser realizado.
Compreender a dinâmica institucional, e a do homem ali inserido, seja ele o encarcerado ou o carcereiro, vai descortinando formas de agir terapeuticamente junto a ambos.
Freud, como em muitos outros assuntos foi o primaz pensador de estruturas humanas a partir de conceitos psicanalíticos. Em sua Psicologia das Massas e Analise do Ego, numa brilhante demonstração de “virtuosismo” analítico, ilustra como é possível pensá-las. Ainda outros autores vão fornecendo recursos complementares que podem nos dar suporte em uma clinica, modesta, porém consistente e segura.
Assim como na psicanálise clinica, o objeto dessa pratica deve ser o sofrimento psíquico, o que torna de inicio as duas atividades irmanadas, e o que as afasta são as inegáveis questões relativas à técnica propriamente dita. Nada de intransponível, no entanto um terreno espinhoso, onde os deslizes são fáceis de ocorrer e muitas vezes decisivos no futuro da relação entre o psicólogo e seu cliente.
Esta é apenas mais uma possibilidade de intervenção junto a este segmento humano tão particular, e apenas mais uma possibilidade entre as infinitas que a psicanálise nos oferece enquanto recurso de pensamento, reflexão e ação terapêutica.

Nenhum comentário:

Postar um comentário